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«É preciso mudar a mentalidade e envolver os decisores das empresas»
26 Setembro 2025
BastonáriaESGGalveias
Bastonária participou na conferência «ESG no financiamento», em Lisboa


«ESG no financiamento: o que pedem os bancos e como a plataforma SIBS ESG o simplifica», foi o tema escolhido no âmbito do ciclo «Conversas Sustentáveis», organizado pela Plataforma Lisboa Sustentável Empresas, da direção municipal de economia e inovação da Câmara Municipal de Lisboa, que se realizou a 25 de setembro, assinalando o Dia Nacional da Sustentabilidade. A sala polivalente da Biblioteca Palácio Galveias, em Lisboa esteve lotada, onde pontificavam todos os elementos que compõem o conselho diretivo da OCC, para ouvir um debate em que se falou de inovação, tecnologia e, naturalmente, sustentabilidade. A moderação esteve a cargo de Vítor Barros, professor associado de finanças, no ISEG. 

Aumenta a pressão sobre as empresas

Paula Franco começou por destacar o papel desempenhado pelos bancos na «alavancagem da utilidade» da informação financeira. A bastonária disse ainda que existem «aspetos práticos e operacionais que estão a criar dificuldades aos intervenientes neste processo», isto numa altura em que a pressão sobre as empresas vai aumentando. «O que se pretende em termos de informação» é, na perspetiva de Paula Franco, a grande questão a que ainda não se deu uma resposta clara. Por seu turno, Filipa Saldanha, diretora de sustentabilidade do Crédito Agrícola, referiu que «a banca exige reporte de informação às micro e pequenas empresas, independentemente da sua performance, mas isto vai mudar, muito rapidamente, nos próximos dois anos» e deu mesmo o exemplo que o desempenho das empresas vai condicionar, entre outros aspetos, a concessão de crédito.

Ana Gouveia apresentou, numa perspetiva de democratização do acesso ao financiamento verde, a plataforma SIBS ESG, que considerou um «instrumento tecnológico ainda desconhecido para a maior parte das empresas», mas com «grande potencial». A head da SIBS ESG referiu que a entidade da qual é responsável trabalha há mais de quatro décadas com o setor financeiro, pretende envolver as associações e entidades empresariais, a academia, a tecnologia e o conhecimento nesta dinâmica na recolha de informação financeira rumo à sustentabilidade. Por seu turno, Filipa Saldanha defendeu que as empresas de menor dimensão podem ter nestas plataformas, como a da SIBS, um importante acompanhamento. Ainda nesta perspetiva, a bastonária admitiu que «as empresas de pequena dimensão não têm capacidade para responder logo a todas as exigências», sendo fundamental a proximidade e o apoio dos profissionais. «Os contabilistas certificados são, muitas vezes, os únicos interlocutores que auxiliam as micro e pequenas empresas no cumprimento dos critérios ESG. Mas, numa primeira análise, seria fundamental não exigir às empresas sem lhes serem dadas condições», acrescentou.  Apesar de, presentemente, o relato para empresas de menor dimensão ser voluntario, a legislação é muito complexa e exigente, obrigando a uma alocação de recursos.

Reptos aos «decisores das empresas»

Numa altura em que ainda reside a dúvida no modo como as micro e pequenas empresas vão cumprir as exigências regulatórias, a bastonária não perdeu a oportunidade para deixar um repto aos «decisores das empresas»: «admito que a atual ambiguidade nos critérios ESG não facilita a tomada de decisão dos empresários, mas estes têm, necessariamente, de mudar a mentalidade e ter em consideração as opções de sustentabilidade.» Dirigindo-se ainda aos empresários, a bastonária partilhou mais um reparo: «Nas conferências que organizamos sobre fiscalidade e sustentabilidade, os empresários preferem enviar os seus contabilistas certificados ou responsáveis pelos departamentos de sustentabilidade, em vez de estarem eles próprios presentes. É necessário alterar esta forma de estar, mudando a mentalidade e envolvendo os decisores das empresas, ou seja, quem verdadeiramente decide e está focado e por dentro dos negócios.»

Rui Figueiredo, manager na SKYPRO ESG, apresentou o caso de sucesso da sua empresa, que num passado longínquo vendeu sapatos e agora fabrica uniformes e outros artefactos para o setor da aviação, após um processo de adaptação à mudança, introduzindo inovação, vencendo uma pandemia e enveredando, sem temores, pelo caminho da sustentabilidade.

A liderar a fiabilidade do processo

Na última ronda de intervenções, Paula Franco deteve-se no papel dos profissionais da contabilidade e da fiscalidade e na gestão do tempo. Ou na falta dele, mais concretamente. «Tal como os recursos ambientais são escassos, o tempo é igualmente um recurso muito escasso. Os contabilistas certificados ainda não têm a disponibilidade e o tempo suficiente para ajudarem as empresas a cumprirem com as obrigações de sustentabilidade.  As exigências ao nível da fiscalidade e contabilidade ainda são imensas.  Só quando os profissionais estiverem suficientemente envolvidos é que este processo avançará verdadeiramente», declarou. A responsável máxima da Ordem mostrou-se convicta que os contabilistas certificados e os revisores oficiais de contas serão os profissionais a quem competirá «liderar a fiabilidade do processo», mas advertiu que «continuam a faltar métricas mais palpáveis e realistas.» Apesar disso, salientou, «não existe outra alternativa à ligação entre o relato financeiro e não financeiro.»