O relato integrado intercalar é, de há sete anos a esta parte, um compromisso regular em nome da transparência das contas. Gostaria de destacar alguma marca nestes documentos, onde a vertente da sustentabilidade está cada vez mais presente?
O Relato Integrado Intercalar tem sido, ao longo dos últimos anos, uma prática regular da Ordem em abono da transparência, da prestação de contas e da proximidade com os seus membros. Do ponto de vista do Conselho Fiscal, é um instrumento que contribui positivamente para reforçar a confiança dos utilizadores na informação financeira e não financeira da instituição. Destacaria, em particular, a evolução que estes relatórios têm vindo a revelar, designadamente, através do alargamento progressivo da informação prestada. Para além da dimensão financeira, tem vindo a ser integrada informação diversa, tal como, sobre a atividade dos órgãos sociais, sobre formação, sobre os membros e colaboradores, e sobre indicadores de desempenho operacional. Sendo adepto de uma visão pragmática do relato, que, aliás, me levou a investigar no âmbito do doutoramento modelos diferenciados de relato, entendo que o Relato Intercalar poderia beneficiar de uma maior aproximação à filosofia da IAS 34. Refiro-me, em particular, à eliminação de repetições de informação já divulgada em relatório anteriores, anuais ou intercalares, o que pode contribuir para tornar estes documentos ainda mais focados e eficazes.
Boas práticas, boa governança e uma eficiente gestão de recursos, são indicadores fundamentais em qualquer organização. Como avalia o que tem sido feito nestes domínios?
A boa governança, a gestão eficiente dos recursos e a adoção de boas práticas não são apenas requisitos formais — são, hoje, condições essenciais para a sustentabilidade de qualquer organização. Do ponto de vista do Conselho Fiscal, a avaliação destes domínios parte, naturalmente, da análise económico-financeira, mas não se esgota nela. Importa considerar, igualmente, o modo como os recursos são mobilizados em função do interesse público e da missão da Ordem. Nesse sentido, destaco a diversidade e quantidade de serviços disponibilizados aos membros da OCC. Estamos a falar, entre o mais, de respostas a pedidos de parecer, da produção e atualização de manuais técnicos, de uma oferta formativa muito vasta, não só em termos de conteúdos, mas também de formatos, do desenvolvimento de ferramentas tecnológicas de apoio ao exercício da profissão. Esta capacidade de devolver valor aos membros, com uma cobertura nacional efetiva, é, na nossa perspetiva, um indicador relevante de boa gestão direcionada para os membros.
Relativamente ao futuro da profissão, há gerações que abandonam o seu exercício, após o cumprimento da sua missão, e outras que entram. Como vê este passar de testemunho e o que pode mudar?
A profissão está, naturalmente, em transição à semelhança do mundo em geral. Temos assistido, por um lado, à saída de profissionais com longos anos de experiência e, por outro, à entrada de novas gerações, talvez com perfis mais digitais, eventualmente mais sensíveis à sustentabilidade e possivelmente com expectativas diferentes em relação ao exercício da atividade. Este movimento é natural, exigindo da Ordem uma atenção redobrada à forma como se garante a continuidade da profissão com qualidade e ética.
Esta transição terá implicações relevantes para a Ordem, quer em termos estratégicos, quer na afetação de recursos. A renovação geracional influencia o desenho da formação, o investimento em plataformas tecnológicas e até a comunicação institucional.
No relatório “Future ready: accountancy careers in the 2020s”, a Association of Chartered Certified Accountants (ACCA) identifica cinco grandes áreas onde os contabilistas poderão contribuir de forma decisiva: como assurance advocates, business transformers, data navigators, digital playmakers e sustainability trailblazers. Como assurance advocates, os contabilistas reforçam o seu papel em ambientes cada vez mais complexos e digitais, ajudando a garantir transparência, confiança e responsabilidade. Como digital playmakers e data navigators, lideram a integração da tecnologia na função financeira, aplicando análise de dados, inteligência artificial e automação na criação de valor. E como sustainability trailblazers, assumem um novo protagonismo na medição e reporte de indicadores não financeiros, cada vez mais determinantes na avaliação do desempenho organizacional.
São muitas dimensões para uma profissão só…
Neste novo paradigma, também os modelos de carreira estão a evoluir. Assistimos ao abandono progressivo de percursos lineares, substituídos por trajetórias mais flexíveis, com mudanças frequentes de função e atualizações constantes de competências. A aprendizagem torna-se mais digital, a formação contínua deixa de ser uma obrigação regulatória para se tornar um imperativo profissional. A profissão exigirá uma combinação equilibrada de competências técnicas, éticas e humanas, da inteligência digital à emocional, sem esquecer a integridade.