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Uma profissão em processo de redefinição
23 Setembro 2025
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Evento comemorativo do Dia do Contabilista realizou-se a 22 de setembro, no Porto


Um dia cheio e pleno de reflexões, desafios e novidades. Este podia ser, de forma muito rápida, o balanço do evento comemorativo do Dia do Contabilista que se realizou a 22 de setembro, no auditório da Ordem, no Porto.

O objetivo mobilizador de redefinir a profissão, o impacto da inteligência artificial nesta atividade, a apresentação do CCLEX (antigo SICC) e o lançamento do livro de «Contabilidade Financeira» foram marcas fortes de uma jornada que reuniu mais de 700 contabilistas certificados, nas instalações da Ordem, no Largo Primeiro de dezembro.

Uma referência técnica e pedagógica

Contudo, no começo dos trabalhos privilegiou-se a dimensão cultural. Após as músicas calmas da melodiosa voz de Sophie Vidal, acompanhada ao piano por Pedro Alvadia, a  exibição de uma peça de teatro, que já havia sido apresentada no Dia do Contabilista em 2023, neste mesmo auditório, voltou a acontecer no palco das instalações da OCC, na cidade invicta. «A contabilidade e o desassossego: Comédia filosófica e contabilística», produzida pelo Teatro do Bolhão, foi a proposta para este ano, a partir de uma ideia e conceção do diretor da OCC, Álvaro Costa, a partir de Fernando Pessoa, figura maior da literatura portuguesa e também ele um contabilista. 

Ao bater do meio dia, chegou o momento há muito aguardado. A bastonária Paula Franco e o coordenador do livro Carlos Menezes protagonizaram o lançamento da obra «Contabilidade Financeira», um projeto que conheceu a luz do dia num evento de grande simbolismo para a profissão e para os profissionais – aliás, todos os presentes receberam um exemplar do volumoso livro no ato de credenciação. Um livro que, nas palavras de Paula Franco, «pretende afirmar-se como um marco e uma referência técnica e pedagógica de excelência. Este é mais um sonho de uma obra realizada de e para contabilistas certificados.» Por seu turno, Carlos Menezes, professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, reforçou a «importância desta obra para a profissão e para a academia. Este é o nosso contributo e responsabilidade para futuros mais justos, éticos e sustentáveis.» Feita a apresentação, oportunidade para esmiuçar «o impacto do livro na contabilidade e na profissão. Paula Franco moderou um painel constituído por Carlos Menezes, coordenador do livro e Carlos Plácido, Carla Viana e Pedro Pinheiro, todos coautores.
 


As vantagens e os perigos da IA

Após o almoço, mais uma novidade alvo de apresentação: o CCLEX. Na verdade, é uma das ferramentas que há mais tempo acompanha os contabilistas certificados.  Começou por ser SITOC (quem não se lembra do velhinho CD-ROM que seguia juntamente com a revista mensal), passou a SICC e agora surge com uma nova designação: CCLEX – desconstruindo, CC de contabilista certificado e «Lex», uma palavra do latim que significa «lei», «norma» ou «preceito». Durante a apresentação da nova roupagem da ferramenta, Paula Franco não escondeu o desejo de «tornar que esta ferramenta volte a ser muito utilizada, de preferência diariamente, pelos profissionais.»

Apesar de não ser contabilista certificado, Edgar Francisco, para além de professor do ISCTE-IUL e consultor em TI, é formador da OCC na área da inteligência artificial. Coube-lhe, ao longo de quase 70 minutos a proeza de agarrar um auditório inteiro com uma apresentação subordinada ao tema «Ferramentas de Inteligência Artificial: como as utilizar em seu proveito.»

Ainda na onda do tema da Inteligência Artificial, após a pausa para café decorreu a mesa-redonda sobre a temática que está na mente e corre de boca em boca, em praticamente qualquer local e profissão do mundo. A bastonária Paula Franco voltou a vestir a pele de moderadora num debate que juntou Carlos Alexandre, Raquel Mota Pinto e Bruna Araújo, todos contabilistas certificados, e Abílio Sousa, consultor fiscal, com muitos anos de ligação à Ordem enquanto formador. Houve ideias consensuais: a IA permite ganhar tempo, competências e pode ser rentabilizada. Não se pode ter medo de utilizar a IA, até porque ao fazê-lo só melhoraremos os resultados que dela possamos vir a obter. Perigos, como em tudo na vida, também os há e foram identificados, nomeadamente na necessidade de confirmar fontes e artigos. Para Paula Franco, é preciso «saber que nem tudo o que nos é dado pela IA, é verdade. É preciso manter a massa crítica.» Apesar desta advertência, a conclusão é só uma: ou os contabilistas se adaptam rapidamente a este novo paradigma tecnológico ou se atrasam irremediavelmente, até no relacionamento com os seus clientes, que também já usam estas ferramentas. 

Três anos e meio para cumprir um «sonho»


«A reinvenção da profissão» foi o fio condutor para a intervenção derradeira, em jeito de conclusão e dirigida a toda a classe profissional, protagonizada por Paula Franco.  Para a bastonária, «a profissão, como está agora, não serve os interesses dos utilizadores da informação financeira, refiro-me aos empresários, investidores, bancos, etc.». Sem se deter, a responsável máxima da OCC acrescentou que «90 por cento da contabilidade praticamente só serve os interesses do Estado, quando a economia, a sociedade e os clientes precisam de nós.» 

Direita ao assunto, a responsável máxima da OCC lançou vários reptos aos profissionais: «Temos de ter sempre as contas fechadas até ao dia 15 do mês seguinte para todos os patamares de empresas. Para além disso, o objetivo é fechar as contas em fevereiro ou março e não em maio ou junho, como agora acontece. Estou em crer que se isto acontecer os CC vão se sentir muito mais realizados no seu trabalho», disse. A bastonária informou ainda que a Ordem já solicitou a prorrogação do prazo da modelo 22 definitivamente para junho, mas advertiu que a data terá de ser muito mais antecipada, ou seja, para março.

A bastonária desafiou ainda todos os profissionais a perseguirem o que chamou um «sonho»: «Temos todos de estar alinhados no objetivo mobilizador de disponibilizar informação atempada a quem dela mais precisa. A quem interessa que as demonstrações financeiras estejam concluídas em maio ou junho, por exemplo? Tenho três anos e meio de mandato e quero ver este sonho cumprido até 2028. Mas não consigo este objetivo sozinha. Preciso da vossa ajuda», disse. Paula Franco foi ainda mais longe e desafiou os profissionais a afirmarem-se, definitivamente, como «agentes de transformação», até porque, sublinhou «esta é a profissão mais importante na área das ciências económicas.» Colocando uma forte emotividade na sua intervenção, a bastonária lembrou que, no passado, «também me diziam que as férias fiscais, o justo impedimento e a mudança na Lei Geral Tributária eram impossíveis. Afinal, não foram.»

Despedida em apoteose

Se o início foi com música, o epílogo não podia ser diferente. Desta feita em apoteose. Sophie Vidal e Pedro Alvadia regressaram ao palco para interpretarem melodias mais dançáveis. A resposta foi de tal moda entusiástica, que após «Can’t take my eyes off you», houve pedido de «só mais uma». Fora do alinhamento, a escolhida foi «Dancing Queen», dos imortais ABBA. 

A nona edição do Dia do Contabilista será comemorada no próximo ano, em local a definir.



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