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Avelino Antão, José Maria Mendes, Manuel dos Santos e Domingues de Azevedo,
na sessão de encerramento do XVII Seminário Internacional do CILEA, no Europarque
Cerca de oito centenas de Técnicos Oficiais de Contas assistiram no passado dia 7 de Novembro, no Europarque, em Santa Maria da Feira, ao XVII Seminário Internacional de Países Latinos da Europa e América. O mote do encontro foi «As PME como factor de desenvolvimento» e o tema acabou por ser abordado sob os mais diversos ângulos, tanto por especialistas portugueses como do mundo latino.
Alguns desses caminhos foram apontados, desde logo, por Domingues de Azevedo, na sessão de abertura. «AS PME foram consideradas, durante muito tempo, uma espécie de parceiro pobre da estrutura empresarial e o seu papel foi muitas vezes menosprezado», sustentou o presidente da Direcção da CTOC para quem é de extrema importância «discutir a capacidade de criação de valor, do crescimento sustentável e da sobrevivência num mundo global das PME.»
A sessão inaugural contou ainda com a presença de Fernando Mendonça, em representação do Governador Civil de Aveiro, que agradeceu à Câmara «o facto de ter escolhido para a realização do encontro o distrito de Aveiro e o concelho da Feira, em particular», revelando também a total disponibilidade do Governo Civil «em colaborar, no âmbito das suas competências, no que lhe for solicitado.»
Seguiu-se José Maria Mendes, vice-presidente do CILEA pelo Brasil, em representação do presidente, o espanhol Fernando González-Moya que, por motivos de saúde, acabou por não poder estar presente na conferência, apesar de se ter deslocado a Portugal. «Somos 18 países de língua latina no CILEA e temos dado importante contributo no panorama contabilístico internacional», garantiu este responsável brasileiro.
Os TOC nas PME
A primeira sessão do dia, subordinada ao tema «Os profissionais da Contabilidade nas PME» contou com três oradores. Coube a Manuel Caseirão, partner da BDO, "abrir as hostilidades", mostrando-se, desde logo, defensor de «uma contabilidade exigente e ao serviço das empresas.» Depois de traçar a definição de PME em Portugal, de acordo com o normativo nacional, e de apresentar um conjunto de estatísticas que mostravam o peso das PME na economia portuguesa e europeia, tanto em volume de negócios como em número de trabalhadores, o orador apresentou algumas das soluções para as PME sobreviverem num mundo globalizado.
«Que modelo de profissional» foi o tema escolhido por Ezequiel Fernandes para a intervenção seguinte. Partindo de uma questão prévia - qual o modelo do profissional mais adequado ao desenvolvimento das PME? - o também presidente da Comissão de Inscrição da CTOC concluiu que o profissional deverá «transformar os dados em informação útil para o empresário, reconciliar as PME com as exigências da sociedade global e contribuir para o reconhecimento de oportunidades e decisões de sucesso.»
O primeiro painel do dia ficaria concluído com «A informática "informada"». Autor da apresentação: Francisco Regateiro. Âmbito: relação dos TOC com as novas tecnologias e a importância da gestão dos sistemas de informação (GSI). Depois de apresentar definições de GSI de acordo com dois autores (Booth e Amaral), o chefe do departamento de Sistemas Informáticos da CTOC salientou a necessidade de existir um bom planeamento, desenvolvimento, exploração, gestão, recursos e informação arquitectural.
PME e criatividade
O segundo painel da manhã, moderado por Eurico Cirne Lima Basto, foi subordinado ao tema «A criatividade nas PME». Daniel Bessa, presidente do Gabinete de Estudos da CTOC e da Escola de Gestão do Porto, foi o primeiro orador, debruçando-se, inicialmente, sobre o actual contexto de crise económica mundial e a evolução dos mercados.
«Se não tivessem sido tomadas medidas na União Europeia, Estados Unidos e Japão, já não teríamos sistema financeiro», foi a advertência deixada pelo ex-ministro da Economia, que acrescentou que «estivemos à beira de uma catástrofe de dimensões inimagináveis» que deixou o sistema financeiro literalmente «fora de serviço».
Por seu turno, Armindo Monteiro, o orador seguinte no seminário, visando o factor criatividade nas PME, começou por frisar que «vivemos a era de todos os medos para as empresas e para o mundo». O presidente da Associação Nacional dos Jovens Empresários (ANJE) acrescentou que a sucessão de acontecimentos levou a que o mundo esteja no «limiar de uma forte conflitualidade social», em que domina a luta pela sobrevivência. «É preciso regressar ao tempo das ideias, mas a gestão das emoções é um princípio orientador dos governos, quando não devia ser. Os fait-divers converteram-se numa ideologia da governação. A democracia, o poder do povo, está transformar-se em "emocracia", a gestão das emoções», lógica que se vai arrastando para a liderança empresarial. E é este particular, sustenta, que o TOC, «fazendo uso da razão», deve evitar.
Marin Toma, o presidente da CECCAR, a entidade que representa os contabilistas na Roménia, abordou o tema «As PME como contributo para a investigação e desenvolvimento», com especial enfoque no que se faz no seu país. Criação de crescimento e de emprego, aumento das exportações, estimulo da cultura empresarial e coesão social, são para Toma as principais virtualidades das PME.
Organização nas PME
Helena Oliveira, em representação da Associação Portuguesa dos Peritos Contabilistas, também membro do CILEA, inaugurou a terceira sessão do dia, subordinada ao tema «A importância da organização nas PME.» A docente do ensino superior apresentou um trabalho assinado por si e mais dois autores (Benjamim Sousa e Alfredo Teixeira, ambos igualmente docentes no ISCAP) dedicado às «Necessidades organizacionais das PME.»
A oradora começou por apresentar o conceito de empresa e a classificação que o normativo português aplica para distinguir os diversos tipos de empresa. De acordo com o INE 81,3 por cento das empresas têm menos de 10 trabalhadores e apenas 3,6 por cento possuem mais de 50 funcionários. Esta docente universitária não tem dúvidas de que as PME necessitam de uma estruturação para se desenvolverem mas reconheceu também que os problemas de sucessão associados aos interesses da família e empresa são uma constante.
Norberto Barbieri, em representação da Argentina, deu a conhecer um pouco da realidade daquele grande país sul-americano. Com uma exposição dedicada à «Contabilidade como elemento fundamental de gestão», este especialista começou por salientar a importância das PME, alertando para a necessidade de se ter «normas contabilísticas internacionais adaptadas às pequenas e médias empresas. Este é um tema que tem ganho muita actualidade e que é necessário continuar a desenvolver», sustentou o orador argentino.
A finalizar a terceira sessão surgiu o contributo brasileiro, através de José Maria Mendes. O vice-presidente do CILEA falou sobre «O papel das PME na sustentação da economia», trazendo até Santa Maria da Feira o quadro actual do Brasil. O orador deu a conhecer o apoio institucional do governo brasileiro às pequenas e micro empresas e a forma como é feito o escalonamento. Mendes salientou o facto de tanto nos países desenvolvidos como em vias de desenvolvimento existir dificuldade para as PME obterem financiamento, «o que demonstra o mau funcionamento do mercado de capitais.»
Globalização
O quarto painel do dia iniciou-se com a intervenção de Francesco Serao, o primeiro presidente do CILEA. O orador italiano abordou «A irreversibilidade da globalização» à luz dos recentes acontecimentos. Serao declarou que «a globalização é um problema de liberalização de bens, serviços e capitais» e que, fruto das crescentes assimetrias, aprofundou uma «guerra David contra Golias». Sobre as tendências mais vincadas se desenham, Serao destacou os fluxos migratórios de países pobres para ricos, a fusão e concentração de bancos e o «trabalho imenso» que representa para as PME as Normas Internacionais de Contabilidade. O italiano disse ainda que são várias as ameaças que levam a que as PME «se defendam contra os efeitos da globalização».
O director da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica do Porto, Alberto Castro, teve a seu cargo o tema «As PME como factor concorrencial». Castro começou por defender que as PME são os «músculos de qualquer país», fazendo a analogia com o corpo humano. Sobre os «mitos/equívocos» em torno das PME, o académico elencou o «complexo da pequenez», mas, sublinhou, que «há cada vez mais PME com vocação planetária» - as "born global", como definiu. Alberto Castro salientou o papel cada vez mais destacado desempenhado pelos «campeões ocultos», ou seja, «empresas que preferem ser excelentes em vez de serem grandes». «As PME são indispensáveis ao tecido produtivo e à coesão nacional e, no fundo, são tão importantes como as grandes empresas», disse.
José Maria Raigón abordou o tema «As relações internacionais da profissão e a globalização». O especialista espanhol iniciou a sua intervenção defendendo a tese que «não existe outro caminho que não seja o fortalecimento das relações internacionais», com o intuito de dar resposta aos desafios provocados pela «linguagem comum das Normas Internacionais de Contabilidade». Raigón chamou a atenção da plateia para «a preponderância que tem vindo a ser assumida pela visão anglo-saxónica, não apenas na Contabilidade», facto que «precisa de um sólido contra-peso latino», nomeadamente no debate das NIC.
O encerramento do último painel do seminário internacional coube a Joaquim Rocha da Cunha, presidente da associação das PME-Portugal. Na dissertação que fez sobre «a evolução previsível das PME», o dirigente associativo referiu «as crescentes queixas de políticos e das PME contra o movimento da globalização», numa altura em que no mundo, «os chineses são a fábrica», o Brasil, «o celeiro» e a Índia, «a inteligência». «Vivemos uma era perigosa», referiu Joaquim Cunha, que preconizou que «na raiz da crise está o facto de os bancos não conhecerem os clientes», tornando imprevisível estimar os estragos decorrentes.
Conclusões
A súmula das conclusões pertenceu ao presidente do Conselho Técnico da CTOC, Avelino Antão. A estratégia anti-crise das PME com a aposta na criatividade, os TOC como primeiros vectores para antecipar o futuro e o papel influenciador da CILEA, que representa profissionais de 18 países, junto do IFAC para a criação de uma secção para tratar problemas específicos das pequenas e médias empresas, foram algumas ilações extraídas por Avelino Antão.
O presidente da CTOC, Domingues Azevedo, reconheceu que o tema «PME», apesar de «fugir às temáticas da formação tradicional da Câmara», revela-se de fulcral importância, na medida em que, «quanto melhor percebamos a dinâmica do mundo, melhores respostas daremos às dúvidas que nos são colocadas.»
Depois dos agradecimentos à organização e aos participantes de José Maria Mendes, vice-presidente do CILEA, usou da palavra Manuel dos Santos, Presidente da Mesa da Assembleia Geral da CTOC. «O apoio às PME é um tema recorrente, sempre presente na agenda política. Urge tratar do aparelho produtivo e da economia real, o que vislumbro ser a única saída para a crise, antes que esta se espalhe para a área social e quiçá política.» O eurodeputado acrescentou que «a mão invisível falhou» e que é necessário «regular, fiscalizar e, prioritariamente, responsabilizar os culpados.»
PROGRAMA DO EVENTO
Apresentações:
1.º Painel - Os Profissionais da Contabilidade nas PME
Manuel Caseirão
A importância da Contabilidade nas PME
Ezequiel Fernandes
Que modelo de profissional
Francisco Regateiro
Os profissionais e as novas tecnologias
2.º Painel - A Criatividade nas PME
Daniel Bessa
As PME e a evolução dos mercados
Armindo Monteiro
As PME como factor de criatividade
Marin Toma
As PME como contributo para a investigação e desenvolvimento
3.º Painel - A Importância da Organização nas PME
Helena Oliveira
As necessidades organizacionais das PME
Norberto Barbieri
A Contabilidade como elemento fundamental da Gestão
José Maria Mendes
O Papel das PME na sustentação da Economia
4.º Painel - As PME e a Globalização
Francesco Serao
A irreversibilidade da globalização
Alberto Castro
As PME como factor concorrencial Joaquim Cunha
A evolução previsível das PME
Valentin Rosell/José Maria Raigón
As relações internacionais da profissão e a globalização
Conclusões
Avelino Antão
Resumo dos painéis e conclusões
Outras imagens:
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Cerca de oito centenas de TOC estiveram reunidos no Europarque
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A realidade das PME em Portugal, e também noutros países, como a Roménia,
foi o mote para o seminário internacional de Sta. Maria da Feira
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A aposta na criatividade pelas PME, vista como uma das estratégias anti-crise,
foi uma das ilações do seminário internacional
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José Maria Mendes, vice-presidente do CILEA, e Domingues de Azevedo,
presidente da CTOC, à entrada para os trabalhos
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A foto de família dos membros do CILEA e da CTOC